Pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Paulo, e da Universidade de Bristol, no Reino Unido, criaram um
software de acesso público que mostra possíveis cenários de contágio pelo
novo coronavírus . As análises apresentam como diferentes condições podem mudar a resposta do
Sars-CoV-2 na
sociedade .
A construção visual do modelo foi inspirada por uma reportagem publicada no jornal norte-americano
Washington Post , na qual o repórter explora, através de gráficos, os resultados de diferentes cenários de atenuação e supressão social para conter o avanço do vírus. "Queríamos fazer algo robusto, simples e que reproduzisse resultados interessantes. Usamos como base as notícias e pesquisas científicas sobre o tema", afirma José Paulo Guedes Pinto, economista, professor da UFABC e cocriador do projeto, à
GALILEU .
Segundo ele, algumas escolas já estão utilizando o site como material didático para explicar o avanço da
pandemia . A ferramenta, adaptada de um modelo desenvolvido em 1998 para simular a disseminação do vírus da gripe, funciona como um meio de análise e previsão do que pode acontecer nos próximos meses em relação ao número de infectados, imunizados e mortos.
É possível verificar que, dependendo das condições — como o
distanciamento social , a reintrodução do vírus no ambiente ou a
imunidade ou mutação de suas cepas —, o Sars-CoV-2 pode se perpetuar e provocar surtos ou
epidemias recorrentes por tempo indeterminado. Isso levaria a população a novos períodos de confinamento e a impactos econômicos ainda mais profundos até a criação e popularização de
vacinas e outros tratamentos.
Como usar
A plataforma interativa permite que as pessoas definam seu próprio conjunto de dados, que incluem a taxa de confinamento, a densidade populacional, a imunidade e a janela de transmissão. A partir disso, são feitas as simulações.
O software interativo mostra diferentes cenários da pandemia. Com 90% de isolamento social é possível verificar uma curva mais achatada (Foto: Reprodução)
A equipe acredita que, em todos os casos simulados, a estratégia mais eficaz seja a do isolamento social , que tem um maior potencial de achatar a curva de dispersão do vírus. Ainda assim, há uma possível recorrência de novos surtos da doença ao longo do tempo.
Os cientistas desenvolveram a plataforma de maneira independente e agora buscam financiamento de agências de fomento à pesquisa para ampliar as variáveis e envolver especialistas de outras áreas. "Esse momento mostrou que a
ciência é fundamental para superar crises. Nosso próximo passo é complexificar mais esse sistema para gerar resultados cada vez mais precisos", conta Pinto.
Além disso, o software é opensource, ou seja, está aberto para que qualquer pessoa utilize seu código e o modifique.
*Com supervisão de Larissa Lopes
BEATRIZ LOURENÇO* - 07 ABR 2020 - 12H18 ATUALIZADO EM 07 ABR 2020 - 15H30
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