sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Artigo: Aprender e ensinar com foco na educação híbrida - Modelos de Rotação

 Aprender e ensinar com foco na educação híbrida 

Lilian Bacich; José Moran 

Revista Pátio, nº 25, junho, 2015, p. 45-47. Disponível em: http://www.grupoa.com.br/revista patio/artigo/11551/aprender-e-ensinar-com-foco-na-educacao-hibrida.aspx 

A integração cada vez maior entre sala de aula e ambientes virtuais é fundamental para abrir a escola para o mundo e trazer o mundo para dentro da escola. 

Híbrido significa misturado, mesclado, blended. A educação sempre foi misturada, híbrida,  sempre combinou vários espaços, tempos, atividades, metodologias, públicos. Agora esse  processo, com a mobilidade e a conectividade, é muito mais perceptível, amplo e profundo:  trata-se de um ecossistema mais aberto e criativo. O ensino também é híbrido, porque não se  reduz ao que planejamos institucionalmente, intencionalmente. Aprendemos através de  processos organizados, junto com processos abertos, informais. Aprendemos quando estamos  com um professor e aprendemos sozinhos, com colegas, com desconhecidos. Aprendemos  intencionalmente e aprendemos espontaneamente. 

Falar em educação híbrida significa partir do pressuposto de que não há uma única forma de  aprender e, por consequência, não há uma única forma de ensinar. Existem diferentes  maneiras de aprender e ensinar. O trabalho colaborativo pode estar aliado ao uso das  tecnologias digitais e propiciar momentos de aprendizagem e troca que ultrapassam as  barreiras da sala de aula. Aprender com os pares torna-se ainda mais significativo quando há  um objetivo comum a ser alcançado pelo grupo. 

Colaboração e uso de tecnologia não são ações antagônicas. As críticas sobre o isolamento que  as tecnologias digitais ocasionam não podem ser consideradas em uma ação escolar realmente  integrada, na qual as tecnologias como um fim em si mesmas não se sobreponham à discussão  nem à articulação de ideias que podem ser proporcionadas em um trabalho colaborativo.  

Nesse sentido, um simples jogo ou atividade realizada no formato digital pode servir como  inspiração para uma ação integradora, e não individual. 

As estratégias de condução da aula devem ser repensadas. Os modelos de rotação, propostos  pelo Instituto Clayton Christensen (Christensen, 2012), podem ser utilizados com tal propósito. Nessa abordagem, os estudantes são organizados em grupos e revezam as atividades realizadas de acordo com um horário fixo ou com a orientação do professor. As formas de organização das salas para os modelos de rotação são descritas a seguir. 

1. Rotação por estações: os estudantes são organizados em grupos, e cada um desses grupos  realiza uma tarefa de acordo com os objetivos do professor para a aula. Um dos grupos estará  envolvido com propostas on-line que, de certa forma, independem do acompanhamento  direto do professor. É importante notar a valorização de momentos em que os alunos possam  trabalhar colaborativamente e momentos em que trabalhem individualmente. Após  determinado tempo, previamente combinado com os estudantes, eles trocam de grupo, e esse  revezamento continua até que todos tenham passado por todos os grupos. As atividades 

planejadas não seguem uma ordem de realização, sendo de certo modo independentes,  embora funcionem de maneira integrada para que, ao final da aula, todos tenham tido a  oportunidade de ter acesso aos mesmos conteúdos. 

2. Laboratório rotacional: os estudantes usam o espaço da sala de aula e o laboratório de  informática ou outro espaço com tablets ou computadores, pois o trabalho acontecerá de  forma on-line. Assim, os alunos que forem direcionados ao laboratório trabalharão nos  computadores individualmente, de maneira autônoma, para cumprir os objetivos fixados pelo  professor, que estará, com outra parte da turma, realizando sua aula da maneira que  considerar mais adequada. 

A proposta é semelhante ao modelo de rotação por estações, em que os alunos fazem essa  rotação em sala de aula; porém, no laboratório rotacional, eles devem dirigir-se aos  laboratórios, onde trabalharão individualmente nos computadores, sendo acompanhados por  um professor tutor. Esse modelo é sugerido para potencializar o uso dos computadores em  escolas que contam com laboratórios de informática. 

3. Sala de aula invertida: a teoria é estudada em casa, no formato on-line, por meio de leituras  e vídeos, enquanto o espaço da sala de aula é utilizado para discussões, resolução de  atividades, entre outras propostas. No entanto, podemos considerar algumas maneiras de  aprimorar esse modelo, envolvendo a descoberta, a experimentação, como proposta inicial  para os estudantes, ou seja, oferecer possibilidades de interação com o fenômeno antes do  estudo da teoria. Diversos estudos têm demonstrado que os estudantes constroem sua visão  sobre o mundo ativando conhecimentos prévios e integrando as novas informações com as  estruturas cognitivas já existentes para que possam, então, pensar criticamente sobre os  conteúdos ensinados. Essas pesquisas também indicam que os alunos desenvolvem  habilidades de pensamento crítico e têm uma melhor compreensão conceitual sobre uma ideia  quando exploram um domínio primeiro e, a partir disso, têm contato com uma forma clássica  de instrução, como uma palestra, um vídeo ou a leitura de um texto. 

4. Rotação individual: cada aluno tem uma lista das propostas que deve completar durante  uma aula. Aspectos como avaliar para personalizar devem estar muito presentes nessa  proposta, visto que a elaboração de um plano de rotação individual só faz sentido se tiver  como foco o caminho a ser percorrido pelo estudante de acordo com suas dificuldades ou  facilidades, identificadas em alguma avaliação inicial ou prévia. A diferença desse modelo para  outros modelos de rotação é que os estudantes não rotacionam, necessariamente, por todas  as modalidades ou estações propostas. Sua agenda diária é individual, customizada conforme  as suas necessidades. Em algumas situações, o tempo de rotação é livre, variando de acordo  com as necessidades dos estudantes. Em outras situações, pode não ocorrer rotação e, ainda,  pode ser necessária a determinação de um tempo para o uso dos computadores disponíveis. O  modo de condução dependerá das características do aluno e das opções feitas pelo professor  para encaminhar a atividade. 

Conclusão 

A integração cada vez maior entre sala de aula e ambientes virtuais é fundamental para abrir a  escola para o mundo e trazer o mundo para dentro da escola. Outra integração necessária é a  de prever processos de comunicação mais planejados, organizados e formais com outros mais  abertos, como os que acontecem nas redes sociais, em que há uma linguagem mais familiar, 

uma espontaneidade maior, uma fluência constante de imagens, ideias e vídeos. Os jogos e as aulas roteirizadas com a linguagem de jogos estão cada vez mais presentes no  cotidiano escolar. A combinação de aprendizagem por desafios, problemas reais e jogos com a  aula invertida é muito importante para que os alunos aprendam fazendo, aprendam juntos e  aprendam no próprio ritmo. São muitas questões que impactam a questão da educação  híbrida, que não se reduz a metodologias ativas, ao mix de presencial e on-line, de sala de aula  e outros espaços. Essa prática mostra que, de um lado, ensinar e aprender nunca foi tão  fascinante graças às inúmeras oportunidades oferecidas; de outro, pode ser frustrante devido  às dificuldades em conseguir que todos desenvolvam seu potencial e realmente se mobilizem  para evoluir sempre mais. 

A educação híbrida precisa ser pensada no âmbito de modelos curriculares que propõem  mudanças, privilegiando a aprendizagem ativa dos alunos — individualmente e em grupo,  escolhendo-se fundamentalmente dois caminhos: um mais suave, de mudanças progressivas, e  outro mais amplo, de mudanças profundas. No caminho mais suave, elas mantêm o modelo  curricular predominante (disciplinar), mas priorizam o envolvimento maior do aluno, com  metodologias ativas, como o ensino híbrido, para a realização de projetos, jogos de cunho mais  interdisciplinar e, em especial, a aula invertida para iniciar com a primeira aproximação a um  tema ou atividade no ambiente virtual e realizar o aprofundamento com a mediação do  professor no ambiente presencial. 

As instituições mais inovadoras propõem modelos educacionais mais integrados, sem  disciplinas. Organizam o projeto pedagógico a partir de valores, competências amplas,  problemas e projetos, equilibrando a aprendizagem individualizada com a colaborativa;  redesenham os espaços físicos, combinando-os aos virtuais com o apoio de tecnologias  digitais. As atividades podem ser muito mais diversificadas, com metodologias mais ativas, que  combinem o melhor do percurso individual e grupal. 

As tecnologias móveis e em rede permitem não só conectar todos os espaços, mas também  elaborar políticas diferenciadas de organização de processos de ensino-aprendizagem  adaptados a cada situação, ou seja, aos que são mais proativos e aos mais passivos; aos muito  rápidos e aos mais lentos; aos que precisam de muita tutoria e acompanhamento e aos que  sabem aprender sozinhos. Conviveremos nos próximos anos com modelos ativos não  disciplinares e disciplinares com graus diferentes de “misturas”, de flexibilização, de  hibridização. 

Lilian Bacich é psicóloga, pedagoga e mestre em Educação. lilian.bacich@usp.br 

José Moran é doutor em Comunicação e professor aposentado da  

USP. moran10@gmail.com 

http://www.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/11551/aprender-e-ensinar-com-foco-na educacao-hibrida.aspx


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